quinta-feira, 12 de abril de 2018

saudades

Quem me dera a saudade ser apenas uma palavra, unicamente uma expressão passageira de um trem vindo da nostalgia. Mas, ela é uma serpente de vários pés que pisa no meu presente, com dedos apontados pro meu coração dizendo "você não vai esquecer porque eu não vou deixar".
Enquanto choro ela ri, ri alto e ensurdece minha mente. Tampos os ouvidos, mas o grito e a zombaria vem de dentro, e não há filtro e nem janela anti ruído que possa brecar seus gritos. Não bastando a mente atormentar, vem no coração e dá um beliscão, uma fisgada e me deixa sem ar. Me paralisa perdida em um espaço tempo, tão longe do agora. Me perco no labirinto dos meus desejos tão antigos de querer você aqui.
A arapuca para ela é instalada, abro um pano cheio de ocupações vazias, e chama ela para comer, e a coloco amarrada em um saco, envolto com cordas e nós, e tiro teu ar.. finjo não dar importância e lhe jogo no porão, na esperança de sufocá-la e ela morrer. Até mantenho uma distância, respiro pseudo aliviada. Em passos silenciosos, melancólicos, em luto cheios de vazios, seguindo escuto gritos abafados. E não são gritos dela dessa vez, dessa vez são gritos meus. Grito por ela, grito por mim, não sei se ela me alimenta da sua presença ou eu me nutro das recordações que ela me traz.
Disfarço, ainda envergonhada, desfaço os nós que amarram o peito, e desfaço o sufoco com choro represado. Abraço a saudade de volta, que ri de mim, e peço que fique mesmo assim, trazendo em sua distância, a tua presença.


Aline Barcelos 11.04.18

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