quinta-feira, 24 de julho de 2014


A arte de ser felizHouve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

olhar

Assim tão irreconhecíveis no meio de tantos encontrei com os teus olhos.
Olho para ti e reconheço de longe 
Olhos tão meus que nem sei quando foi quando eu os perdi
Tive esse olhar por segundos, que me lembraram a eternidade.
Olhos teus que não me revelaram quem tu és,
 que como assaltantes armados me fizeram entregar todo o ouro, abrir todos os cofres em cada piscada seca a me mirar. Sorriso não pude esconder, e lhe dei. Tentei defender o que me restava, e me restou descobrir quem tu eras, o que existe de tão misterioso nessa nuvem de segundos que nos encontramos em silêncio secreto. Deixemos de vagar sobre, porque devagar o tempo se arrasta para quem sabe encontrá-los de novo.

Aline Barcelos


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Sol e chuva
casamento de viúva
Chuva e sol
Casamento de espanhol
E quando o sol encontra a lua de manhã no mesmo céu?
É amor!

Aline Barcelos


segunda-feira, 14 de julho de 2014

A proteção da Arte

A arte me protege de qualquer desvio
De qualquer carga que possa carregar
Ela me purifica
Me tira da terra desumana
Me faz faz ver o belo 
Mesmo com o sangue correndo 
Quando começo a esfolar meu ser de tanta coisa a me bater
Vem a poesia e grita,
Aleluia!
Me faz correr daqui da realidade para um mundo de tempo zen, calmo e utópico
Quando não posso fugir de um lugar,
vou para o meu dentro de notas, sol e fá
Claves e letras de cura..
Milton, Gonzaguinha e Vercilo
Músicas e canções são orações de proteção para não ficar em em vão, em trabalhos vãos e espinhosos 
Arte me revela e me guarda de um mundo de palavras bélicas
De sentimentos descartáveis
Me protejo em cores, linhas e paletas
De existência apenas de corpos
Desse deserto de almas
Nesse descarte de tempo 
De olhos fechados e bocas abertas
Arte em concerto me conserta os ponteiros
E me faz viver de amor e flor, aqui
Em lugar de pedras e galhos..
Para todas as cores..
Amém!

A minha "brisa" é a poesia!


Aline Barcelos



quarta-feira, 9 de julho de 2014

terça-feira, 8 de julho de 2014

Pode-se?

Querer mais não é poder.
Poder é podar!
Podar o que se pode é pesar as penas
Que pena!.
Pena é fazer muralha com o tempo.
Cadê o tempo?
Do tempo fazer vida é a utopia que quero viver.
Viver!
Viver é querer sorrir no vão da distração.
Distração?
Distração é o que agonia dá espaço.
Sem espaço!
Espaço é o que quero diminuir entre nós.
Nós em nós...
Nós é o que queremos desatar, mas..
Mais de nós não podemos!
Poder?

Aline Barcelos

Minguante

Minguada
Assustada
Acuada
Precisando ficar em paz
Nesse tempo de turbilhões hormonais

Aline Barcelos