sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Deveria ter calado a minha dor, não atrapalhado seu silêncio. Mas, como marcar hora para dor vir? Seria ótimo, dor venha na próxima quarta-feira de cinzas, assim choro toda s as mortes em uma morte só. Seria bom, pegar todas as dores e guardá-las em uma sacola de plástico de supermercado, amarrá-las e sufocá-las, tirar o ar delas até ficarem pálidas e desmaiarem. Porém, elas enroscam na garganta que nem espinhos, arranham como arame farpado e escancaram cara fora o que rasgou por dentro.
Me desculpe, se cheguei assim com o peito ardendo, querendo que você assoprasse a minha dor, eu sei que não era hora, mas não tinha como fingir que não era comigo e com você. Me perdoa, se entrei sem tocar a campainha e fui desaguando todo meu sangue venoso e venenoso sobre seus ombros e seu prato de comida. Meu pranto salgou todo seu pudim, eu sei, mas seu fel amargo perturbou todos meus doces planos que tinha de ir com você todos os dias para as nuvens. Tá, tudo bem, quer dizer, eu tentei segurar isso tudo para chegar a hora certa, será que tem hora certa? mas, bem não é bem assim que as coisas funcionam. Eu não funciono bem com horas, nem com nó no peito, nem com vontade de te ver. Eu sei que você pediu distância, mas meu sol amanheceu escaldando, e precisa que você visse o estrago que fez no meu jardim. Cultivei todas essas para você, e você simplesmente deixou para que eu cuidasse sozinha, pois é, não sou tão boa jardineira quanto parece, passo horas a fio enxugando minhas lágrimas, que não dá tempo de regá-las. Tá, me perdoe mais uma vez, se as expectativas foram minhas e se foram em você, mas estou aqui, pedindo para que entenda que dor não tem hora,eu sei que você vai entender, acho que vai.

Aline Barcelos 20.10.2012

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